Santo André: Programa ajuda morador de rua a voltar para casa

O retorno para o convívio familiar foi um sonho possível para 88 moradores de rua do Grande ABC neste primeiro semestre. Por meio do recâmbio, programa mantido pelas secretarias de assistência social das prefeituras da região, eles tiveram oportunidade de restabelecer vínculos quebrados com entes queridos. Entre os motivos para o afastamento estão problemas com álcool e drogas, conflitos familiares e até a mudança de cidade em busca de sustento.

Ribeirão Pires foi o município que apresentou mais encaminhamentos de pessoas em situação de rua para casa de familiares em outras cidades – 36. Enquanto isso, em Diadema, apenas um morador de rua conseguiu voltar para a residência de parentes na cidade de Santa Catarina. Foram observados 26 casos na cidade de São Bernardo, 20 em Santo André e cinco em São Caetano. Mauá e Rio Grande da Serra não informaram.

O processo de recâmbio começa nas rondas feitas pelas equipes do serviço municipal, explica a coordenadora do Centro POP (Centro de Referência para a População de Rua) de São Bernardo, Deyse Andrade. Caso o morador acolhido manifeste desejo de retomar vínculo com a família que está longe, é feito contato com os parentes para saber se também há o mesmo desejo do outro lado, explica. “Não basta dizer que mora na Bahia e querer uma passagem para lá. Todas as partes precisam ser preparadas para essa mudança”, comenta.

A maior parte dos recâmbios proporcionados por São Bernardo é para outros Estados, principalmente do Nordeste. “O pessoal é atraído por São Bernardo por causa das empresas e também porque é a terra do ex-presidente Lula”, destaca Dayse.





Já em Diadema, o processo é diferente, explica a servidora da Coordenação de Proteção Social Especial da Secretaria de Assistência Social e Cidadania da cidade, Joana Maria Gouveia Franco Duarte. Cerca de 80% dos moradores de rua têm residência fixa e não quer voltar para casa, seja por enfrentar problemas com dependência química ou dificuldade de convivência com a família. Além disso, a maior parte deles mora na Região Metropolitana da Capital.

ESPERANÇA

Não foi fácil para a equipe da assistência social de São Bernardo tirar Nelita das Dores Ramos, 58 anos, das ruas da cidade. Com a esperança de melhorar de vida, a mineira de Caratinga saiu de lá em 1977 e chegou em São Bernardo em 1983. Morou por 15 anos no Terminal Ferrazópolis e aprendeu a sobreviver com o dinheiro que conseguia graças a “bicos”. Desde janeiro ela mora no albergue municipal.

Motivada por uma úlcera ocular, Nelita aceitou ajuda, deixou o alcoolismo e hoje sonha em ter uma casa e reencontrar a filha, deixada há 35 anos. A busca não é simples. A ex-moradora de rua perdeu contato com a irmã em 1999, quando a filha. Gisele Margarida de Oliveira, tinha 24 anos. “Já entramos em contato com a assistência social do município, mas até agora não temos novidades”, observa Dayse.

Em Santo André, a história é diferente. Lucia Maria da Conceição, 57, se viu em situação de rua há seis meses, quando brigou com a filha e com o genro e foi posta para fora de casa. Depois de quatro dias na rua, ela aceitou acolhimento dos assistentes sociais da Prefeitura e hoje usa o albergue municipal para passar as noites.

O desejo inicial era voltar para Belém, na Paraíba, onde abandonou a seca há 32 anos. Quando estava tudo pronto para o recâmbio, o coração falou mais alto e ela desistiu. Tudo porque os planos de vida foram refeitos a partir do início do namoro com homem 27 anos mais novo. “Quero voltar, mas antes vou conseguir emprego e fazer pé-de-meia”, diz Lucia.

Fonte: Diário do Grande ABC





Deixe seu comentário