Histórias de Moradores de Santo André
Esta página em parceria com o Museu da Pessoa é dedicada a compartilhar histórias e depoimentos dos Moradores da cidade.
Vídeo: “Foi um divisor de águas na minha vida”Sinopse: Rafael em seu depoimento fala sobre sua infância agitada, por causa do emprego dos pais, e sobre como isso prejudicou um pouco sua atenção na escola. Fala sobre a filha que teve aos 18 anos, que nasceu com deficiência, e sobre as dificuldades que passou com ela. Hoje tem duas filhas, sendo uma de cada casamento. Sempre atento a movimentos sociais, Rafael fala sobre seus empregos, e sua contratação para o projeto “Andrezinho Cidadão”, onde contribuiu no desenvolvimento de um projeto social, levando oficinas de audiovisual para comunidades carentes. Ele comenta sobre a importância do apoio do Criança Esperança ao projeto Cine Debate. História Meu nome é Rafael Torres Fattibene. Nasci em Santo André, São Paulo em 25 de julho de 1985. Meu pai é Antônio Paulo Fattibene e minha mãe é Nádia Torres Fattibene. Eles trabalham com convênios, são representantes comerciais. Tenho duas irmãs, duas irmãs mais velhas. A mais velha é a Bianca e a do meio, a Carol, Carolina e eu sou o caçula. Quando eu era criança minha mãe ficava mais em casa. Depois que a gente cresceu que ela começou a trabalhar fora. Família meio tradicional, antiga, da casa, dos filhos e meu pai na lida. Mas minha mãe também sempre fazia uma coisinha aqui outra ali. Meu pai quando eu era criança, se eu não me engano, ele teve uma imobiliária, morava no interior. Morei muito no interior quando criança, morei um tempo no Nordeste também, Fortaleza. Aí ele já era representante, mas no interior ele chegou a ter uma imobiliária. Eu era pequeno. Eu tinha as dificuldades um pouco de escola, adaptação, essas coisas, mas também por outro lado eu tive a oportunidade de morar em Fortaleza, próximo da praia que era ótimo. Com 15 anos eu comecei a participar de conferência lúdica de direito da criança e do adolescente, ele trabalhava em ONGs, ele era arte-educador também, ele fazia artesanato, oficina de artesanato. A gente ia à ONG que ele trabalhava, eu estudava no período da tarde, às vezes de manhã a gente ia à ONG que ele trabalhava fazer a oficina junto com as crianças, lá com ele, aprendi algumas coisas. Então foi com 15 anos quando eu voltei que eu parei de jogar bola, tudo, que eu vi que não ia dar muito certo, que eu comecei nessa área social, a participar com ele em algumas coisas. Acho que foi um divisor de águas de um lado. Porque eu comecei a participar, ele levava a gente pra participar tanto nas atividades com as crianças, reuniões, conferências de direitos, então eu acho que ali é que eu comecei a ter outra visão do mundo, das coisas. Ele trabalhava com criança em situação de rua, tudo, então eu comecei a ver outra realidade, a gente ia buscar os meninos às vezes nas comunidades. Querendo ou não minha família nunca foi de ter dinheiro, mas tinha uma vida boa, tinha de tudo em casa, sempre morei em casas boas. Então eu comecei a ter contato com outra realidade, eu acho que ali foi mesmo o divisor de águas da minha vida, que eu vi que tem pessoas que não estão nessa realidade, mas que estão fazendo junto, fazendo por essas pessoas e fazendo junto. Eu comecei a ter essa consciência. Minha primeira namorada, namorada mesmo foi aqui depois quando eu voltei, comecei com uns 17 anos, com 18 anos eu fui pai. Então ela engravidou. Foi um baque. Tinha 18 anos, ia terminar a escola e ela descobriu que estava grávida, a gente namorava, continuava morando com a mãe dela, eu com os meus pais. Com cinco meses no ultrassom a gente descobriu que a minha filha tinha uma deficiência. Ela nasceu com uma lesão na coluna, ela é cadeirante, ela anda na cadeirinha de roda, da cintura pra baixo ela tem essa deficiência. Quando ela nasceu eu fui morar junto com a mãe dela. Ela nasceu em abril, eu tinha 18 anos, em julho eu fiz 19, então eu era bem novo. Então também minha vida já deu outra mudada, porque eu fui morar junto, a responsabilidade, pagar aluguel, ter uma filha pra sustentar com uma necessidade especial, então eu tinha a questão dos tratamentos, tudo. Trabalhei em lava rápido, esses trabalhos assim de adolescente. E eu estava começando nessa área social e eu tive que parar por causa da minha responsabilidade, então eu também ficava nos empregos, eu não era muito feliz, porque eu queria, sempre quis voltar pra essa área. Então eu ficava um tempo, começava a ficar meio de saco cheio, mas eu tinha minha responsabilidade, então até eu conseguir eu ia tentando me achar em algum lugar que me satisfizesse profissionalmente. O Andrezinho Cidadão trabalha com abordagem de rua, crianças e adolescentes em situação de rua. Então são as crianças que ficam no semáforo fazendo malabares, vendendo bala, pedindo dinheiro. As crianças que estão na rua. Então o trabalho lá a gente fica o dia inteiro na rua e a gente aborda essas crianças, porque geralmente essas crianças não estão na escola, estão em situação de vulnerabilidade social, não voltam pra casa, ficam na rua. Então estão expostas a várias coisas. O nosso trabalho era o que? Era criar um vínculo com essas crianças e adolescentes na rua, então a gente passava sempre, conversava, brincava, às vezes levava jogos, tudo, e fazia criar um vínculo, pra que? Pra tentar descobrir a história dessas crianças, onde elas moram, por que elas estão na rua e a partir daí, quando a gente descobria o endereço, tal, às vezes a gente oferecia: “Deixa eu te levar pra casa”. Pra tentar descobrir da onde essa criança vinha e porque ela estava na rua. Quando a gente conseguia descobrir, tudo, entrava a equipe técnica do programa, a gente fazia uma visita domiciliar. Eu trabalhei em dois períodos no Andrezinho, se somar eu trabalhei um ano e meio, um ano e oito meses, mais ou menos. E comecei a trabalhar num abrigo, uma instituição de acolhimento em Diadema, lá em São José. Então eu trabalhava de dia no Andrezinho, das oito às duas, e entrava às 18 no abrigo, ficava até as seis da manhã, mas trabalhava lá um dia sim, um dia não. O abrigo eu entrei lá também em 2010, é uma nova experiência porque você trabalha também com crianças e adolescentes, mas é outro processo porque eles moram na casa. Então ali a primeira vez que eu trabalhei lá eu não vou lembrar certinho, mas tinha em torno de uns 25 acolhidos, educandos. Então é uma rotina da casa, você serve jantar pra eles, coloca pra tomar banho, de manhã acorda pra ir pra escola, serve café-da-manhã. Então é como se fosse uma casa, seus filhos, só que você tem, 25 crianças e adolescentes de faixa etárias diferentes, de gêneros diferentes e com histórias de vida muito diferentes. Antes de eu começar a trabalhar com o Instituto eu tinha um grupo que chamava Núcleo de Comunicação Marginal. A gente tinha um projeto que se chamava Sessão Fala Viela, então a gente fazia o que? A gente em São Bernardo tinha duas comunidades que eram no alojamento ali do Silvino e na Vila São José, a gente de domingo à noite estendia, montava um telão, um tecido, e fazia exibição de cinema, de filmes, só filmes nacionais. Então a gente fazia uma seleção de filmes não muito fortes, porque era aberto, era no meio da comunidade, então a gente começou com esse projeto. A gente começou a levar o cinema pra comunidade. No Andrezinho quando o Rui chamou a gente pra escrever um projeto a gente imaginou em fazer um projeto relacionado ao cinema, mas não fazer documentários, fazer curtas, porque a gente tinha também uma educadora que trabalhava com a gente, a Helen que ela é formada em artes cênicas, tudo. Então a gente pensou em misturar um pouco essa questão do teatro e produzir alguns curtas, mas com os meninos manuseando, filmando, eles fazendo toda a produção e a gente junto apoiando. |
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